Comunicação e Transição do Cuidado
Sodré GB Neto
Núcleo Livre da UFG = 2019
Matrícula 201705791
Professores
Ana Elisa Bauer
Dayse Edwiges Carvalho Castilho
Resumo: Ao passar um caso adiante no círculo hospitalar ou fora dele (clínicas, atendimentos domiciliares, etc), a incidência de erros se destaca em números alarmantes, o que nos revela a necessidade de um programa de proteção do paciente mais específico em atender a transição, contendo um projeto que estabeleça estratégias para diminuição de erros na transição de pacientes, turnos e cuidados profissionais.
Indice
Introdução
Estatísticas alarmantes de EA Ligadas a Comunicação
Tipos de Transferência
Métodos e Soluções
Vantagens do Prontuário Eletrônico
Dificuldades na Comunicação
Fatores Culturais e Níveis de Integração
Introdução
Neste ano de 2019 a OMS anunciou: "milhões de pacientes são prejudicados a cada ano devido a cuidados de saúde inseguros em todo o mundo, resultando em 2,6 milhões de mortes anualmente em países de baixa e média renda. A maioria dessas mortes é evitável. O impacto pessoal, social e econômico do dano ao paciente leva a perdas de trilhões de dólares em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde está concentrando a atenção global na questão da segurança do paciente e lançando uma campanha de solidariedade com os pacientes no primeiro Dia Mundial da Segurança do Paciente, em 17 de setembro".[1]
A incidência de eventos adversos , erros hospitalares, erros na medicação[2] , erros médicos[3]onde alguns estudos demonstram tendência de aumento[4], o que somados, chega a patamares elevados como causa-morte nos EUA[5][6]. A comunicação da equipe sobre o quadro do paciente responde por alto percentual como causa, inclusive a não comunicação do proprio evento adverso tem sido objeto de estudo[7]. Dependendo da forma , iniciativas nesta direção podem tanto aumentar os erros[8] como diminuir, indicando a necessidade de amplo debate para amadurecimento de formas mais eficientes de dar atenção aos EA.
"Há inúmeros fatores relacionados à comunicação do paciente que podem causar falhas na assistência. Sobretudo na hospitalização da criança, a comunicação ineficaz entre pacientes/acompanhantes/profissionais pode levar a erros como a suspensão de cirurgias, exames ou procedimentos, falhas na a administração de medicamentos ou até mesmo relacionadas à dietoterapia. Os principais pontos que dificultam a comunicação estão relacionados às passagens de plantão, transferência de cuidados, rounds multiprofissionais, os registros no prontuário do paciente, as prescrições médicas e a comunicação sobre quaisquer alterações no quadro de saúde ou nas condutas terapêuticas para o paciente".[9][10]
Estatísticas alarmantes de EA Ligadas a Comunicação
Estima-se que 80% dos erros graves acontecem por falhas de comunicação entre os profissionais durante alguma transição do cuidado [11] "O ISMP entrevistou, em 2013, 4.884 profissionais, sendo 68% enfermeiros e 14% farmacêuticos. Também participaram do estudo médicos, funcionários dos departamentos de gestão de qualidade e risco e outros profissionais que estão no dia a dia das instituições[12].
Tipos de Tranferência
"Pacientes com algumas condições médicas graves têm maior probabilidade de morrer no hospital se forem admitidos em um fim de semana do que se forem admitidos em um dia da semana".[13]
Existem outros tipos de transferência como se destaca em diversos trabalhos, do idoso para ambiente domiciliar em que uma série de novidades multidisciplinares deverão aparecer para o atendimento do mesmo.
Toda mudança gera uma necessidade de adaptação, uma concordancia ou não com o “modus operande” no novo tratador; e com a necessidade de se conhecer o que foi feito, testado, tentado, para não se incorrer em repetição de erros.
Métodos e Soluções
"Sistema de registro médico eletrônico já usado pela instituição. A adoção foi feita em novembro do ano passado. O recurso escolhido se baseia na coleta e transferência de informações em cinco grandes categorias:
4) conhecimento da situação atual e plano de contingência;
5) resumo feito por quem recebe a transição.
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Queixa principal – por que o paciente está no hospital
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Problemas médicos – todos, mesmo não relevantes na internação atual
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Anamnese e exame físico – incluir partes relevantes da revisão dos aparelhos
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Resultados de exames – laboratoriais e outros complementares
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Medicações e tratamentos – atuais e planejados
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Balanço hídrico – urina e cateteres
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Evolução hospitalar – complicações e progresso
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Plano de alta – o que é preciso para levar este paciente para casa
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Recomendações – opinião e sugestões de quem passa o paciente"[14]
BSR - RELATÓRIO DE TRANSFERÊNCIA DE CAMA - BEDSIDE SHIFT REPORT (BSR)
"Os pacientes e a família são informados sobre a BSR durante o turno anterior e quando o enfermeiro está arredondando. Os enfermeiros devem ser treinados nos elementos críticos da BSR usando a mesma linguagem nas apresentações, continuando o processo usando o SBAR e agradecendo ao paciente no final. 11 (Consulte Usando o SBAR plus T para BSR .) Apresentar uma mensagem consistente cria confiança no paciente e na família.
De acordo com a AHRQ, os elementos críticos da BSR são os seguintes:
* Apresentar a equipe de enfermagem, o paciente e a família um ao outro.
* Convide o paciente e (com a permissão do paciente) da família para participar. O paciente determina quem é a família e quem pode participar da BSR.
* Abra o registro eletrônico de saúde ao lado da cama.
* Conduza um relatório verbal usando o formato SBAR em palavras que o paciente e a família possam entender.
* Realize uma avaliação focada do paciente e uma avaliação de segurança da sala.
* Revise as tarefas a serem feitas.
* Identifique as necessidades e preocupações do paciente e da família.
https://www.nursingcenter.com/journalarticle?Article_ID=3146996&Journal_ID=54016&Issue_ID=3146564
Agency for Healthcare Research and Quality. Nurse Bedside Shift Report Implementation Handbook. http://www.ahrq.gov/professionals/systems/hospital/engagingfamilies/strategy3/St.
Vantagens do Prontuário eletrônico
Uma das principais necessidades que se destaca na transferência de cuidados de saúde é o protuário eletrônico, o qual permite uma interação constante de dados do paciente com a equipe. Este apresenta uma série de vantagens conforme o quadro[15] abaixo:
Fonte: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/267
Dificuldades na Comunicação
Contudo existem estudos demonstrando aumento de mortalidade em hospitais que acabaram de aderir sistema eletrônico de informação[16], o que nos leva a ponderar também se o aumento de burocracias difíceis de se implementar também pode contribuir para elevar o aumento de erros.
O tempo despendido para se passar adiante a situação do paciente representa uma dificuldade; relatar um evento adverso ocorrido parece não perctencer a cultura atual punitiva dos errantes, que muitas vezes não reflete uma compreensão contextual ou humana em sua vulnerabilidade ao erro. Compreender é bem mais difícil que acusar. Amar é mais difível que odiar. Mandar embora é mais fácil que acertar numa contratação. A lei selvagem da seleção natural dos que menos erram parece dominar o pragmatismo administrativo. Tudo isso representa o medo de se comunicar com franquesa em seus erros e dificuldades, de confirmação de recebimento de informação e insegurança na hora de repreender um superior que incorre em erro.
Economia de Tempo
"No dia a dia das instituições, a SBAR pode ajudar a reduzir o tempo gasto na passagem de plantão, um dos momentos mais delicados da rotina. Um estudo que monitorou o tempo antes e após a adoção de SBAR mostrou que a duração da passagem de plantação passou de 53 minutos para 45 minutos com o uso de SBAR em registros de papel e para 38 minutos com SBAR em sistemas eletrônicos. Nas rondas multidisciplinares, o relato sobre cada paciente passou de 119 segundos para 58 segundos ." Cornell P , Gervis MT , Yates L , et al . Impact of SBAR on nurse shift reports and staff rounding. Medsurg Nurs. 2014;23:334–42. https://insights.ovid.com/medsurg-nursing/mednu/2014/09/000/impact-sbar-nurse-shift-reports-staff-rounding/12/00008484
Economia de 240 Bilhões de Dólares somente nos EUA
E as respostas, todas com base no ano anterior, 2012, confirmaram que:
- 73% ouviram ao menos uma vez comentários negativos sobre colegas ou líderes – 20% afirmaram ter ouvido com frequência
- 77% disseram ter enfrentado relutância ou recusa em responder perguntas ou retornar chamadas pelo menos uma vez no período – 13% concordaram que essa situação se repetiu consideravelmente
- 68% relataram ter observado ao menos uma vez linguagem condescendente ou comentários e insultos humilhantes – 15% disseram ocorrer com frequência
- 69% notaram impaciência com perguntas ou mesmo situações em que desligaram o telefone – 10% apontam que ocorreu frequentemente
- 66% comentaram notar relutância em seguir as práticas de segurança ou trabalhar em colaboração – 13% disseram que isso ocorreu como rotina"
Fatores Culturais e Níveis de Integração
Os fatores culturais dos profissionais em relação a segurança do paciente e da sociedade em relação a aspectos intrínsecos de comunicação , estabelecem maior ou menor risco em relação ao fluxo de comunicação. Se um lugar é mais solidário e comunicativo isso pode representar menores índices de erros; como o contrário estabelecer maior barreira para que erros ocorram. O costume de nos comunicarmos de forma humilde e não desprezando a participação do outro é fundamental para que não se silencie as vozes importantes ao nosso redor, e lugares e culturas onde não se pondere este fator sofrem mais sequelas.
Referências
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